Arnaldo Rabelo

26 novembro 2011

Como o Storytelling Transmídia está Mudando a TV

Por Lisa Hsia, vice-presidente executiva da Bravo Digital Media.

Até agora, as empresas de mídia focaram em obter audiências para assistir seus programas “ao vivo” através de um aparelho de TV, onde está o grande volume de dólares da publicidade.

Mas o storytelling transmídia - que é definido como contar uma história que se estende através de múltiplas plataformas de mídia (para a televisão, está indo além do programa que vai ao ar) - tem a capacidade de acabar com isso. “Transmídia” é um daquelas palavras quentes dos buxixos de hoje, tendo conferências, artigos e relatórios de tendências dedicados a ela. Mas não é um conceito novo. Star Wars, Matrix e outros filmes expandiram-se para além do seu núcleo de suas franquias há décadas - para jogos, livros e realidades alternativas.

Na era digital de hoje, há novos fatores em jogo que dão à transmídia o poderoso potencial de mudar o jogo de como o conteúdo para TV é criado.
Pense nisso:

A TV social (tecnologia que suporta comunicação e interação social no contexto de ver televisão ou relacionado ao conteúdo da TV; pode, por exemplo, integrar comunicação de voz, chat de texto, reconhecimento de presença e de contexto, recomendações, avaliações ou vídeo-conferência com o conteúdo da TV, diretamente na tela ou através de dispositivos auxiliares) tornou a televisão uma experiência mais rica e bidirecional, com a participação dos fãs. Uma pesquisa da Nielsen mostra como a TV social amplifica a conversação e impacta as classificações dos programas. A tecnologia criou ferramentas que permitem ao usuário interagir e jogar com o conteúdo como nunca antes (com base na localização, produtos virtuais, realidade aumentada, QR-code, etc). A familiaridade dos fãs com essa tecnologia e o desejo de experimentar o conteúdo da TV em dispositivos que não sejam TV explodiu.

A capacidade de criar veículos de storytelling de forma eficiente, a preços acessíveis e participativa, que vão além de “bônus extras” e se espalham por meio de diferentes canais de circulação, está mudando as regras e criando uma proposta de valor muito grande para ser ignorada. Como um dos avôs do storytelling transmídia, o professor da USC Henry Jenkins, gosta de dizer, “Se não se espalha, está morto”.

Além da segunda tela

Tirar vantagem dessa nova realidade é imperativo nas mídias sociais, tanto da perspectiva de engajamento quanto de valor. Vemos o storytelling transmídia como o próximo passo obrigatório na evolução da TV, tendo sido usado recentemente na primeira campanha do programa Top Chef.

Nesse programa, conforme os concorrentes são eliminados, eles descobrem que sua jornada ainda não acabou. Em vez de ir para casa, eles têm a chance de competir em uma série digital similar que acontece a cada semana depois do episódio ir ao ar. Esses programas online dão aos competidores a chance de ganhar o seu lugar de volta ao programa final na TV. A série digital impacta diretamente o resultado do programa que vai ao ar na TV.

Para experimentar a dinâmica completa da competição, os fãs são atraídos para assistir tanto a TV quanto as plataformas digitais. O objetivo é criar apelo para os fãs do programa Top Chef com o conteúdo mais aprofundado e significativo que eles querem, assim como criar conteúdo online que atraia fãs casuais para o grupo.

A meta é criar um fluxo de conteúdo de plataforma para plataforma e trazer fãs ao longo do caminho – tanto o superfã como o fã casual. Isso é algo que não foi possível até à adoção em grande escala dos smartphones, tablets, redes sociais e ferramentas de criação de games como Bunchball e GetGlue.

Unindo elementos com o objetivo comum de gerar engajamento em torno desse centro transmídia, estamos provando que todas as métricas – rankings, tráfego e buxixo social – irão evoluir. Não estamos apenas tentando aumentar o valor da proposta em termos de engajamento, mas também em termos de retorno do investimento para os patrocinadores de longo prazo.

Se conseguirmos provar que o engajamento e o valor aumentam exponencialmente com a integração perfeita do storytelling em todas as plataformas de mídia, todos ganham - fãs, criadores de conteúdo e anunciantes. Os departamentos digitais deixarão de ter esse nome e serão “geradores de conteúdo multiplataforma”, que estão convertendo conteúdo de storytelling para onde quer que melhor se encaixe e de onde a melhor proposta de valor derive.

Mais inovação à frente

A TV está à beira de uma revolução transmídia e há muitas experiências interessantes em curso.

O canal Syfy está lançando um programa chamado Defiance (Desafio), onde uma história é contada na TV e em um game: cidades diferentes, com personagens e acontecimentos em comum.

Tim Kring, um dos pioneiros modernos da transmídia com seu trabalho em Heroes e Conspiracy for Good, está produzindo Touch (Toque) para 2012. Ele espera que a Fox embarque em suas tendências transmídia.

O próximo marco em transmídia, ainda inalcançado, é o storytelling social colaborativo, onde os fãs poderão aprofundar a trama de forma significativa e generalizada. As empresas de mídia inteligentes procurarão formas de ir além dos modelos tradicionais e de transformar seus fãs em avançados embaixadores da marca.

Se a transmídia será a nova norma, ainda veremos. Mas pode-se facilmente perceber que, no cenário atual de mídia fragmentada, será obrigatória para a sobrevivência da TV. Talvez o futuro da TV não esteja na televisão tradicional ou nas plataformas digitais, mas na inteligência coletiva - o ciclo de interação entre os dois.

Fonte: The Washington Post – 17/11/2011
Tradução: Arnaldo Rabelo

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