Arnaldo Rabelo

11 outubro 2007

Empresas investem em novas formas de conquistar clientes

Em busca de novas maneiras de conquistar o consumidor, algumas companhias investem pesadamente em pesquisa e mantêm verdadeiras estruturas de laboratório diretamente ligadas à produção. Apesar da grande quantidade de dinheiro necessária para desenvolver novidades e do risco de ver as novas idéias fracassarem, o esforço em inovar vale a pena, segundo executivos consultados. Eles afirmam que agregar elementos novos aos negócios ajuda a garantir produtos modernos e uma posição no mercado à frente dos concorrentes.

Segundo especialistas, não basta ter uma idéia brilhante para realizar uma inovação em uma empresa. “As pessoas confundem inovação com descoberta. Inovação é incorporar um valor ao seu produto ou processo de fabricação que você antes não usava, mas podia já ser utilizado por outros. Não precisa ser inédito”, explica o diretor geral da Sociedade Brasileira Pró-inovação Tecnológica (Protec), Roberto Nicolsky.

Um exemplo é o da rede de perfumes O Boticário. Há dois anos, para lançar um perfume mais sofisticado e atrair compradores de renda mais elevada, a empresa resgatou uma técnica antiga de fabricação muito mais cara do que as tradicionais. Usando gordura vegetal, permite extrair puramente a essência das pétalas das flores, em vez de copiá-las quimicamente. Além disso, o Boticário fabricou um perfume produzido com álcool de vinho e macerado em tonéis de carvalho (como a bebida) e usou nanotecnologia, que manipula objetos na escala de um milionésimo de milímetro, em um creme de tratamento para a pele. “Inovar é um trabalho constante e é uma prioridade. Acreditamos que isso faz a diferença para o nosso cliente”, diz o diretor de pesquisa e inovação da rede, Israel Henrique Feserman. Na empresa, 91 funcionários, entre biólogos, químicos, farmacêuticos, engenheiros químicos e estatísticos trabalham constantemente em um centro de desenvolvimento em Curitiba, no Paraná.

Na calçadista gaúcha Grendene, os R$ 12 milhões que a empresa investe anualmente em pesquisa e desenvolvimento se refletem nas lojas: em uma delas, criada especialmente para vender as sandálias de plástico Melissa e localizada na sofisticada rua Oscar Freire, em São Paulo, os produtos são exibidos com pompa de obra de arte. Além disso, a fachada da loja-galeria é transformada a cada quatro meses. ”Trocamos as cores da fachada com adesivos porque queríamos dar à loja essa cara mutante, que traduz bem a cara da Grendene e a preocupação com inovação”, diz o gerente de pesquisa e desenvolvimento da empresa, Edson Matsuo.

O esforço na busca de novidades rendeu frutos: em maio, a Grendene ficou em segundo lugar no ranking do Índice Brasil de Inovação, elaborado por pesquisadores do Departamento de Política Científica e Tecnológica, do Instituto de Geociências (DPTC/IG/Unicamp).

Para chamar a atenção do público de crianças e adolescentes, a gaúcha Calçados Bibi adicionou rodas e molas aos seus calçados: lançou recentemente o modelo Big Jump, que pula; antes, a empresa já havia lançado um tênis com rodinhas acopladas, como um skate. Os executivos da companhia, com sede no Rio Grande do Sul, fábrica da Bahia e aproximadamente 40 pessoas dedicadas exclusivamente à pesquisa, reclamam da falta de incentivo para quem quer investir em pesquisa e desenvolvimento corporativo no Brasil. "É muito complicado conseguir verbas do governo, tem muita burocracia", diz o presidente da Bibi, Marlin Kohlrausch. "Nós temos condições de usar dinheiro próprio, por isso conseguimos. Mas, muitas vezes, não na velocidade que gostaríamos", diz.

Segundo a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de empresas que fizeram algum tipo de inovação do Brasil de 2003 a 2005 permaneceu estável em relação ao período de 2001 a 2003: passou de 33,3% para 33,4%. "As empresas no Brasil em geral estão desestimuladas porque inovar sempre representa um risco. Os países em que o governo apoiou são os que hoje têm crescimento forte, como Japão, Coréia, Taiwan, China", diz Roberto Nicolsky, diretor geral da Sociedade Brasileira Pró-inovação Tecnológica (Protec), entidade que estimula a inovação tecnológica nas empresas.

Fonte: G1 - 05/10/07

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