Arnaldo Rabelo

19 setembro 2006

Fabricantes de móveis criam marcas paralelas

Com dificuldades para obter boas margens de lucro nas grandes redes de lojas como as Casas Bahia, Ponto Frio e Magazine Luisa, responsáveis por mais de 55% das vendas de móveis no país, algumas empresas da indústria moveleira estão desenvolvendo novas marcas com lojas exclusivas para ampliar sua rentabilidade.

O objetivo é conquistar uma clientela de maior poder aquisitivo, que sofre menos com as oscilações da economia do que a classe média. Este ano, as vendas do setor caíram 9%, puxadas pela classe C, enquanto o setor A e B se mantiveram estáveis, de acordo com a Abimóvel, entidade do setor. A Carraro e a Rudnick, antigas fornecedoras de móveis populares para as grandes redes, criaram novas marcas para vender móveis planejados sem abalar seu negócio principal.

A Rudnick, de Santa Catarina, abriu sua primeira loja Vogue em Florianópolis (SC) no mês de julho e vai inaugurar a segunda unidade em Curitiba (PR) este mês. Até o fim do ano, planeja abrir uma unidade em São Paulo. "O plano de expansão prevê a abertura de 70 lojas e investimentos de R$ 4,8 milhões por ano até 2011", afirma o diretor geral da Vogue, Álvaro Lahm. A empresa fabrica móveis para cozinhas, dormitórios, salas de estar, banheiros e lavanderias.

Segundo ele, a primeira tentativa de abrir lojas próprias começou em 2002, com o nome Rudnick, enquanto as redes varejistas eram atendidas com uma nova marca, chamada Alpes. No entanto, a iniciativa não deu certo porque as lojas eram voltadas para a classe média e concorriam com as varejistas, que oferecem melhores vantagens de pagamento. "O consumo aumentou mas a oferta cresceu muito em relação a dez anos atrás", explica.

Até 2004, a empresa chegou a abrir 38 lojas Rudnick em todo o país - o equivalente a 30% das vendas da empresa - , das quais restaram hoje apenas 22. A solução foi partir para outro público consumidor, que está disposto a pagar mais caro por móveis planejados e com design mais elaborado.

Assim, a marca Rudnick voltou a abastecer o mercado multimarcas no ano passado e a Vogue ganhou espaço com lojas exclusivas. "Levamos 18 meses para decidir por uma linha voltada para a classe A, que tem um consumo mais estável", explica. A marca Vogue, que pertencia a um fornecedor de placas de aglomerados e MDF no Paraná, pertence à Rudnick há dez anos, mas só agora foi recuperada. O objetivo da companhia é que a Vogue represente 33% dos seus negócios até 2008.

A gaúcha Carraro, que seguiu o mesmo caminho da Rudnick, obtém 30% das vendas internas com a linha Criare, de móveis planejados para dormitórios e salas de jantar. A marca foi lançada há três anos e conta com uma rede de 80 lojas. "Até o final do ano serão 100 lojas e em 2007 pretendemos abrir mais 50", conta o diretor presidente Ademar De Gasperi.

Segundo ele, a marca tem uma fábrica própria, no mesmo terreno da unidade da Carraro, em Bento Gonçalves (RS). Ao todo, são 676 funcionários, sendo que 80 trabalham na Criare. A equipe deve ganhar um incremento de 10% no ano que vem devido ao aumento do número de lojas. "As vendas da Criare cresceram 30% no primeiro semestre", afirma. Em março, a fábrica receberá três novas máquinas italianas para acabamentos, encomendadas este ano após investimentos de R$ 800 mil.

No entanto, a queda das exportações para os Estados Unidos anularam o crescimento obtido com o lançamento da Criare. As vendas para o país, que de janeiro a junho de 2005 representaram US$ 8 milhões, caíram para US$ 200 mil no mesmo período deste ano, segundo o executivo.

Uma das pioneiras na estratégia de crescer entre os consumidores de maior poder aquisitivo foi a gaúcha Todeschini. A marca, que era vendida em lojas multimarcas, passou a ter apenas produtos sofisticados e lojas exclusivas. Para cobrir a lacuna deixada na área de móveis mais baratos, a companhia criou a Italínea, marca independente responsável apenas pelos produtos populares. Três anos após o início desta transição, a Todeschini representa 66% dos negócios da companhia.


Fonte: Valor

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