Arnaldo Rabelo

24 agosto 2006

Otaku, uma tribo de bitolados gastadores, dita tendências no Japão

É possível vê-los no amplo bazar de produtos eletrônicos Akihabara (cidade eletrônica). Eles são do tipo bitolado, dedicam-se a construir seus próprios computadores pessoais e frequentam lojas que vendem mangás (gibis japoneses) ou brinquedos clássicos no centro de Tóquio, onde não é raro alguém desembolsar US$ 1.400 por uma versão da Rika-Chan (a Barbie japonesa) do começo dos anos 70.

No Japão, essa tribo bizarra de consumidores é chamada de otaku - um bitolado, ou "nerd", que é fanático por quadrinhos, desenho animado ou é um colecionador obsessivo. São irredutíveis em suas preferências e representam uma subcultura de consumo surpreendentemente poderosa no Japão.

São meio esquisitos, mas, juntos, gastam cerca de US$ 3,5 bilhões por ano em DVDs de animação, mangás, brinquedos robóticos e quinquilharias tecnológica, entre outras coisas, segundo mostra um estudo recente feito pelo Nomura Research Institute. "O período que passam gastando dinheiro em áreas específicas é muito maior que o dos consumidores comuns", diz Ken Kitabayashi, consultor do Nomura Research.

Alguns otaku podem sofrer de fixações e compulsões graves, mas estabelecem tendências. Grandes fabricantes como a Sony e a Nintendo estudam de perto as manias e os hábitos de compra desse grupo, em busca de sinais do que é quente e do que não é. Por exemplo, os otaku desencadearam o culto a um video game lançado pela Namco Bandai no ano passado, chamado idolm@ster. Nele, os participantes criam e empresariam astros da música pop. O jogo decolou como um foguete graças à divulgação boca-a-boca dentro da comunidade otaku, e deverá virar uma série de TV.

A onda otaku também ganhou notoriedade como um fenômeno social. Um filme de 2005 chamado "Densha-otoko" ("O Homem do Trem"), sobre um jovem japonês na casa dos 20 anos que tenta ajudar uma mulher que está sendo assediada por um bêbado num trem, deu origem a livros e séries de TV.

A otakumania não está chamando atenção somente no Japão. Sites da internet em inglês como o www.otakuworld.com e o www.otakuews.com trazem todas as novidades em termos de animações e quinquilharias. Apesar a atenção internacional, há muitos otaku enrustidos no Japão, especialmente mulheres. A sociedade japonesa nem sempre tolera excentricidades.
O que atrai a atenção das empresas japonesas são as tendências e o poder de compra desse grupo. As empresas japonesas que produzem animações adoram essa turma porque eles não economizam na hora de comprar. Enquanto o preço unitário médio de filmes estrangeiros caiu 17%, para US$ 20, de 2001 até 2004, segundo o Nomura Research Institute; as companhias que têm os direitos de séries de animação clássicas de TV e de novos lançamentos, ainda podem conseguir de US$ 37 a US$ 42 por um título popular.

Empresas espertas já desenvolveram novas categorias de produtos inteiras baseadas no que aprenderam. A Kondo Kagaku, de Tóquio, que produz aparelhos controlados por controle remoto para todos os tipos de brinquedos, é uma delas. Poucos anos atrás, a empresa notou que sua linha de servomotores estava voando das prateleiras. O aparelho, que custa cerca de US$ 120, é usado, em geral, para controlar as rodas de carrinhos de brinquedo movidos por radiofreqüência. Os otaku compravam esses itens para construir seus robôs. A Kondo entrou no mercado de kit para a produção de robôs em 2004. Foi um grande sucesso e, em junho deste ano, a companhia lançou mais um, que custa cerca de US$ 775.

Valor Online

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