Arnaldo Rabelo

21 julho 2008

Na sombra da gigante, Schin aposta no charme artesanal

(Renato Andrade)

Que tal tomar uma cerveja artesanal, produzida em uma pequena fábrica em Campos do Jordão, em um restaurante no Nordeste do país?

A Schincariol trabalha para que isso se torne realidade, com uma estratégia no mínimo arriscada: popularizar o consumo das cervejas especiais sem transformá-las em bebida comum.

Detentora da segunda posição no mercado de cervejas do Brasil, amplamente dominado pela gigante AmBev, a Schincariol comprou no último um ano e meio as principais microcervejarias do país, dedicadas à produção das chamadas cervejas especiais ou premium.

A compra da paulista Baden Baden, da carioca Devassa e da catarinense Eisenbahn garantiu ao grupo um leque amplo de cervejas, seja por tipo ou por valor. E é com esse mix que a empresa pretende aumentar a venda de cervejas especiais, fixando-se como o principal grupo nesse segmento e garantindo, por tabela, um aumento da receita.

As cervejas premium ainda respondem por uma parcela marginal do mercado de cervejas do país, que no ano passado vendeu cerca de 7 milhões de litros, de acordo com levantamento feito pela empresa de pesquisa Nielsen.

Mas o que é pequeno hoje, cerca de 2 por cento do total, é encarado como um incentivo, diante das possibilidades de crescimento sustentado por uma melhora na renda do consumidor.

"Como o mercado ainda é pequeno, tem muito a ser desenvolvido", afirmou Juliano Mendes, gerente do grupo de cervejas especiais do grupo Schincariol, em entrevista à Reuters.

Para o executivo, ex-dono da Eisenbahn, o segmento tem potencial para crescer a taxas robustas por um longo período. "Ainda vamos conseguir crescer por alguns anos, pelo menos uns cinco, a taxas acima de 50 por cento", disse.

GRANDE COM CHARME DE PEQUENO

O movimento de aquisição de pequenas cervejarias por grandes grupos não é novidade. Mas o que a Schincariol considera como inovador é o respeito à tradição na produção das cervejas artesanais.

Em vez de fechar fábricas, transferir a produção para unidades de maior escala e alterar a receita do produto, a opção adotada foi oposta.

"A Schincariol está fazendo exatamente o contrário. Está mantendo totalmente a identidade de cada marca, a fábrica, as receitas, as pessoas", disse Mendes.

"Queremos manter essa essência, mas conseguir dar mais exposição, tentar levar para mais pessoas através de distribuição, de uma rede de comercialização maior, através de mais ações de divulgação da marca, coisas que são muito difíceis para essas cervejarias enquanto independentes."

Reconhecida como uma produtora de cerveja popular, a Schincariol enfrenta outro desafio: convencer os clientes que suas cervejas especiais não serão "comuns" com preços mais salgados.

Para Eduardo Tomiya, especialista em gestão de marcas, a solução é relativamente simples. "A questão é saber se ela quer capitalizar só na marca Schincariol ou se quer, no fundo, ser uma gestora de marcas, como uma Unilever ."

Segundo Tomiya, o consumidor não está preocupado em saber quem é o dono do produto que ele consome. A atenção estaria voltada para a chamada proposta de valor da mercadoria.

"Se eles começarem a mudar o sabor da cerveja, para transformá-la em algo mais popular e ter mais escala, aí sim podem ter um risco, mas eu estou entendendo que o modelo de negócio deles é de gestão de marcas", disse.

Segundo Mendes, da Schincariol, essa desconfiança foi forte quando a empresa anunciou a compra da Baden Baden, em janeiro de 2007. Com a Devassa, em agosto passado, a dúvida dos consumidores foi menor. Em maio deste ano, com o anúncio da Eisenbahn, o efeito foi oposto.

"Mesmo observando alguns casos, como no Orkut, onde pessoas disseram que nunca mais iam botar Eisenbahn na boca, o que aconteceu depois da compra? As vendas cresceram", disse.

As vendas da cerveja catarinense subiam 25 por cento ao mês e passaram para 35 por cento logo após o anúncio do negócio.

A AmBev domina o mercado de cervejas no país com as mais tradicionais marcas do tipo pilsen: Bohemia, Brahma, Skol e Antarctica. No segmento de especiais, as marcas mais importantes do grupo são as Bohemias Confraria (tipo Abadia), Escura (tipo Schwarzbier) e Weiss (tipo Weiss Bier).

Fonte: O Globo - 18/07/08

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