Arnaldo Rabelo

17 outubro 2006

Mercado de cervejas volta a crescer

Depois de uma década de consumo praticamente estagnado em oito bilhões de litros ao ano, o mercado cervejeiro no Brasil mostra fortes sinais de recuperação e promete voltar ao pico de consumo atingido em 1995, quando bateu 50 litros per capita por ano. A perspectiva do setor é fechar o ano com 9,5 bilhões de litros. Esse pequeno movimento interno já mexe com o xadrez mundial das grandes companhias globais em disputa pelos dividendos proporcionados pelos bons bebedores da loira gelada.

Ávidas por manter em alta o interesse dos investidores internacionais em seus papéis nos mercados de capitais, a InBev, a SAB/Miller e a americana Anheuser-Bush não relaxam posições. O reflexo no mercado nacional fica evidente na disposição da AmBev empresa do grupo InBev, em atacar a mexicana Femsa, que demonstra gás para recuperar a combalida Kaiser.

Na semana passada, a AmBev entrou com uma ação na Justiça para tirar do ar a propaganda do teste às cegas proposto pela Kaiser. No fundo, o que incomodou foi a mensagem subliminar de que cerveja é apenas uma commodity. E, se é tudo igual, o que vale é o preço. A estratégia da Femsa, para a concorrência, é jogar a Kaiser numa faixa de preço baixo para conquistar participação de mercado e partir para o lançamento de outra marca voltada ao segmento de cervejas especiais, que no Brasil, não passa de 6% do total.

No mundo, este tipo de produto está em franca expansão. Domina na Inglaterra, com 45% do consumo de cervejas. Nos EUA, responde por 25% e, na Argentina, fica com 15% dos consumidores.

Paulo Macedo, diretor de Relações Externas do Mercosul da Femsa, admite que a empresa vai mesmo lançar uma nova cerveja. Insiste em que ela é "nova", dando a entender que não seria, como especula a mídia, a Sol, carro-chefe da empresa e já vendida no País em embalagem long neck.

Para quem tem 68,4% de participação de mercado, como é o caso da AmBev, poderia parecer um excesso declarar guerra contra um adversário que tem míseros 7,8%. Carlos Lisboa, diretor de marketing da AmBev, discorda. "Estamos sempre em busca de participação e lucratividade", diz.

"O Brasil é o quarto maior mercado mundial de cerveja e tem capacidade de expansão. Embora estivesse estagnado, ainda não é maduro e tem enorme capacidade de crescer em nichos como o das cervejas premium."

A Femsa, que no jogo global ainda aparece tímida, tem bala na agulha, afinal já é a maior distribuidora de Coca-Cola mundialmente. Na categoria cerveja, divide o mercado mexicano com a Modelo, dona da marca Corona, e disputa, também com ela, os 10% de participação das cervejas importadas no maior mercado mundial de cerveja, o americano, dominado pela Budweiser, da Anheuser-Bush.

No cenário latino-americano, a Femsa vem se posicionado agressivamente. É a mais forte candidata a ficar com o patrimônio da argentina Quilmes, à venda pela InBev por determinação do Cade portenho, que não tolera monopólio. Mas, mais do que se posicionar melhor entre latinos, a Femsa acha que tem condições de brigar no mercado brasileiro com a AmBev. Detém a privilegiada logística de distribuição da Coca-Cola, com mais de um milhão de pontos-de-venda no País. Basta reforçar o caminhão com suas marcas de cervejas. E isso começa a incomodar a gigante AmBev.

No tabuleiro nacional, os outros jogadores com participação na disputa não representam ameaças ao momento. A Cervejaria Petrópolis, apesar do forte crescimento em três anos , não tem capacidade de distribuição e está focada em vendas nos supermercados, o que representa baixa rentabilidade. A Schincariol anda às voltas com um passivo fiscal que já foi estimado em R$ 2 bilhões. Valor que dificultaria até a determinação de seu preço frente à forte especulação sobre sua venda.

A McKinsey nega envolvimento no processo, mas fonte do mercado confirma que a consultoria levantou muitas informações sobre a cervejaria da família Schincariol, que silencia sobre o tema.

Do esquadrão da elite global cervejeira, a SAB-Miller seria uma forte candidata à compra. Fez bonito no emergente mercado latino ao comprar a colombiana Bavaria. Empresa que, como dizem os que monitoram o setor, se tratava da última das jóias da coroa na região, por ser bem estruturada e deter um bom mercado.
A maior cervejaria americana, embora seja a terceira no ranking mundial em volume de vendas, é a primeira em termos de rentabilidade, seguida pela InBev e depois pela SAB-Miller.

O Brasil representa agora uma peça do xadrez mundial das cervejarias, seja pelo potencial de mercado, seja pela perspectiva de crescimento econômico.

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