Arnaldo Rabelo

01 outubro 2006

Empresas acordam para os consumidores de 50 a 65 anos

Pesquisas revelam que público nessa faixa etária tem poder de compra superior ao do resto da população.

Não há nada mais desconfortável para um cinqüentão de bem com a vida do que chegar ao restaurante e se dar conta de que esqueceu os óculos de leitura. O garçom terá de explicar o cardápio inteiro. As letrinhas que compõem os menus são quase sempre ininteligíveis.

E isso apesar de a população com mais de 50 anos ser público cativo entre os habituais consumidores de jantares fora de casa. Estudo recém-preparado pela agência de publicidade Talent mostra que essa faixa freqüenta 52% mais restaurantes por lazer do que a média da população.

Mas, além dessa situação frugal, não se desenvolvem produtos e serviços para esse grupo de consumidores. Em particular para uma parcela específica que se alarga em volume, em importância econômica, e também em vitalidade graças aos ganhos da medicina. Uma turma que se situa exatamente entre os 50 e 65 anos.

No Brasil, eles já somam 8,2 milhões apenas nas classes A e B. Ou seja, os que têm condições de viver com qualidade de vida e dispõem de recursos financeiros para tal. “Há toda um geração nessa faixa que teve tempo para projetar suas aposentadorias na previdência privada”, pondera Paulo Stephan, diretor da Talent, responsável pelo estudo elaborado para entender melhor esse consumidor maduro.

O recorte dos 50/65 anos no conjunto da população acima dos 50 poderia se definir como uma espécie de pré-terceira idade. Só que há em torno dessa denominação um caráter pejorativo.

A terceira idade é vista na mídia e na publicidade como o espaço dos cidadãos que gastam suas tardes nos bingos e seus finais de semana nas matinês ao som de boleros.“Prefiro terceiro tempo”, brinca o publicitário Ruy Lindenberg, vice-presidente de criação da Leo Burnett. “É aquele momento da partida em que os jogadores podem até estar exaustos depois do jogo disputado, mas fazem bonito em campo em defesa de suas posições.”

Ricardo José Ferreira, do alto dos seus 64 anos, é um bom exemplo desse novo cidadão de meia-idade. Engenheiro por formação e executivo por carreira, com passagens pela direção de empresas como a antiga Telesp e a Método Engenharia, Ferreira - ou Neto, como é chamado por amigos - aposentou-se da rotina dos negócios, mas descobriu outras formas de prazer: virou pianista por amor à música.

O projeto atual é tocar na noite e estuda a sério para isso. Tanto que já fez apresentações em alguns bares e cafés paulistanos. “Na minha atividade anterior, a saída do dia-a-dia de trabalho é bastante abrupta e provoca um sentimento de ‘despertencimento’, ao contrário, por exemplo, de outras atividades, como as dos profissionais liberais, que podem lentamente migrar para atividades mais prazerosas”, observa.

O médico pediatra e presidente da Associação Brasileira de Sommeliers, Arthur Azevedo, endossa a teoria de Ferreira. Aos poucos, a presença no consultório vem cedendo lugar aos prazeres do vinho. Um tema no qual se aprofunda há mais de dez anos. Aliás, Azevedo, de 55 anos, conta que entre a platéia mais assídua dos cursos e das degustações patrocinados na associação estão médicos, engenheiros, advogados, arquitetos e administradores de empresas. “Muitos acabam se tornando professores por puro deleite, já que são profissionais estabilizados nas suas carreiras e com tempo disponível para se dedicar a atividades que lhes dêem gratificação.”

BALA NA AGULHA
O estudo da Talent que cruzou dados de diferentes fontes indica que os cinqüentões desse começo de século, pelas afinidades de consumo e perspectivas de futuro detectadas, têm bala na agulha para gastar.

Entre os pesquisados, 51% viajam três vezes por ano com permanência de dez dias fora de casa. Uma prática possível pelo fato de 33% trabalharem por conta própria, ante 19% do conjunto da população.

Os 31,7 milhões de pessoas acima de 50 anos respondem por 11% das compras feitas com cartão de crédito, movimentando R$ 13,6 bilhões por ano. O valor médio das transações com cartões de crédito no ano passado, apenas entre os sessentões, girou em torno de R$ 103, contra R$ 79 das pessoas abaixo dessa faixa etária. Um time e tanto de consumidores que mereceria melhor atenção das empresas e também das mensagens publicitárias.

Fonte: Marili Ribeiro - O Estado de S. Paulo

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