Arnaldo Rabelo

11 junho 2006

Bolhas dos pés de Ronaldo ferem a imagem da Nike

Poucas vezes bolhas nos pés de um jogador de futebol causaram tanto furor. Mas não se tratava de pés quaisquer. Eram os pés de Ronaldo, o Fenômeno. Nem de um momento qualquer. As tais bolhas apareceram às vésperas de uma Copa do Mundo. E, para piorar, foi a própria vítima das feridas tão incômodas que apontou a vilã do episódio: “É uma chuteira nova. Acho que veio com uma costura que não tinha”, disse Ronaldo aos microfones da Rede Globo, durante o amistoso contra a Nova Zelândia, no dia 4. Naquele momento, cerca de 20 milhões de pessoas que assistiam ao jogo viram um dos mais importantes garotos-propaganda da Nike dar um pontapé na patrocinadora ao falar mal do produto que ele deveria promover.

Foi mais ou menos como se o garoto-Bombril declarasse que as panelas de sua casa estão riscadas por causa da esponja de aço. A Nike, certamente, não achou graça do episódio, nem das piadinhas e menos ainda das dezenas de páginas de jornais e revistas sobre o assunto que se seguiram, a semana toda, no mundo todo. Sobraram fotos de Ronaldo de chinelos, closes da bolha... Porém, não subestime a ginga da maior empresa de artigos esportivos do mundo para driblar essa saia — ou chuteira — justa. Entre as táticas de defesa, a Nike chegou a dizer que a crítica do “cliente” ajudaria a aperfeiçoar o produto. É que as tais chuteiras, do modelo Mercurial Vapor III, são desenvolvidas em conjunto com o craque. Ele diz o que ajustar, onde alargar, etc. Mas até que ponto a imagem e a credibilidade da Nike ficam tão feridas como os pés de Ronaldo? E o que fazer para cicatrizar essas chagas?

Mas até que a Nike agiu bem quando se viu no olho do furacão. A sua estratégia para contornar a má repercussão das declarações de Ronaldo seguiu a cartilha: ela se manifestou rapidamente. A empresa disparou comunicados e mandou um representante à concentração da Seleção, em Königstein (Alemanha), para responder à enxurrada de perguntas da mídia. “Foram dias difíceis, mas acho que passaram”, disse em Munique, Ingo Ostrovski, diretor de comunicação da Nike, o homem que acompanha a Seleção. Ingo admite que a história foi ruim para a Nike, mas de modo algum irreversível. “Esporte é assim”, resume.

Especialistas em marketing esportivo concordam. “Talvez o pessoal da Nike tenha se chateado internamente com o acontecido. Mas, ao associar a marca a jogadores de futebol, eles sabem dos ricos de o atleta sofrer uma contusão usando a chuteira deles”, afirmou Tom Webb, diretor da Bell Pottinger, empresa britânica que coordena patrocínios esportivos. “A grande sacada da Nike é tentar associar a marca ao estilo de vida do jogador mais que a seu desempenho dentro de campo”, acrescenta. Além disso, em um evento do tamanho de uma Copa do Mundo, a Nike conta com mais um ponto a seu favor: o enorme volume de notícias diárias. “Futebol é muito dinâmico”, diz Voltolini. “As bolhas serão esquecidas.” Provavelmente, ainda é cedo para medir as conseqüências deste problema dos pés de Ronaldo à imagem da Nike.

(Isto É Dinheiro)

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