Arnaldo Rabelo

29 novembro 2007

Videoteca na rede

Foi-se o tempo em que o YouTube reinava absoluto na internet. Os sites de vídeos se multiplicaram e não demoraram a se especializar. Hoje, você não precisa mais se perder entre os milhões de links do YouTube para achar um vídeo sobre um assunto específico ou ao menos relevante.

Quer assistir a trailers e filmes de Bollywood [Índia]? Visite o Bolly Vídeos. Prefere aprender receitas sobre a culinária tailandesa? Acesse o Wine and Food Tube. Com uma estrutura similar aos sites de relacionamento -como reza a cartilha do YouTube-, sites de vídeos se especializaram nos mais variados assuntos, da religião ao sexo, do esporte a ciência.

Criado pelo ator Will Ferrell e por Adam McKay, ex-roteirista do "Saturday Night Live", o Funny or Die dedica-se exclusivamente a vídeos humorísticos. Seu rebento mais famoso, "The Landlord", foi assistido a mais de 48 milhões de vezes e traz Ferrell sendo cobrado por seu senhorio -uma criança de dois anos, interpretada pela filha do ator, que grita, como um adulto, pelo seu aluguel atrasado. "Na internet você pode fazer coisas que não faria em nenhum outro lugar, como nosso senhorio de dois anos. Ele nunca funcionaria em um filme", disse McKay à revista "Wired".

Diferentemente do YouTube, só ficam no Funny or Die os mais bem votados pela audiência do site, classificados como "imortais". Bill Murray e Danny DeVito são alguns dos atores que atuam nos vídeos, entre outros protagonizados por amadores.

A comédia vem ocupando uma larga fatia dos sites de vídeos especializados. Produzido pela TBS Networks, que detém a CNN e o Cartoon Network, o Super Deluxe tem uma programação focada em revelar novos comediantes, com "qualidade de TV".

Nicho
"A segmentação é natural. Os sites procuram uma maneira de se destacar dos concorrentes", diz Hiro Kozaka, do Videorama, que faz uma seleção bem-humorada dos vídeos que circulam pela web no blog. "O mesmo aconteceu na televisão: os canais a cabo supriram uma demanda de conteúdo específico que as emissoras da TV aberta não ofereciam. Quem imaginaria que um canal como o Discovery ou o Cartoon faria tanto sucesso?"

Tiago Dória, dono do blog homônimo sobre novidades na internet e consultor de projetos na web, completa: "Os segmentados começaram a fazer sucesso porque atendem nichos pouco explorados por sites maiores. O Porn Tube, por exemplo, agrega um conteúdo que o YouTube rejeita: a pornografia". Veterano entre os endereços de vídeo especializados, o PornTube é um dos sites mais visitados do segmento, ao lado do YouPorn.

Na outra ponta, o GodTube reúne vídeos de sermões e ensinamentos da Bíblia sob o slogan "Broadcast Him" (transmita-O). "Sites como esse são também uma forma de conquistar audiência e anunciantes mais focados", diz Dória. "Milhares de vídeos são publicados no YouTube diariamente. Muitos sites têm o papel de selecionar esse conteúdo massivo", completa Hiro.

Kubrick repaginado
O Trailer Mash dá ainda nova roupagem a outros vídeos: reúne trailers que mudam o contexto original de filmes, como a famosa versão de "O Iluminado" que transformou o suspense de Stanley Kubrick em uma comédia à la "Sessão da Tarde", além de mash ups (trechos de dois filmes diferentes, como "Goonies" e "Piratas do Caribe", que, novamente editados, criam o trailer de um terceiro).

Mas nem tudo é entretenimento. Com vídeos instrutivos, da neurologia à psiquiatria, o Medical Video Repository é dirigido a estudantes de medicina e médicos formados. Outro exemplo é o 5 Minutes, com vídeos que ensinam ao internauta as mais diferentes empreitadas -até mesmo o passo "moonwalking" de Michael Jackson. "Essa segmentação só comprova que o YouTube foi apenas o começo. Ele é uma espécie de Napster dos sites de vídeos", diz Dória, em uma comparação com o site pioneiro de troca de arquivos.

Fonte: Folha de S. Paulo - 25/11/07

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